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As 10 Guerras Mais Longas da História: Conflitos que Atravessaram Gerações

Quando pensamos em guerras, geralmente imaginamos eventos com duração de alguns anos ou décadas. No entanto, ao longo da história da humanidade, alguns conflitos se arrastaram por séculos, moldando civilizações, redesenhando fronteiras e influenciando culturas por gerações inteiras. Neste artigo, vamos explorar os conflitos mais duradouros já registrados – guerras tão longas que avós, pais e netos conheceram apenas a realidade do confronto.

guerras antigas

A Notável Persistência dos Conflitos Humanos

Antes de mergulharmos na lista, vale refletir: o que faz um conflito perdurar por tanto tempo? Geralmente, as guerras mais longas compartilham características comuns:

  • Disputas territoriais profundamente enraizadas

  • Diferenças religiosas ou ideológicas fundamentais

  • Competição por recursos estratégicos

  • Questões de identidade nacional e cultural

  • Ciclos de vingança e retaliação que se autoperpetua

Essas guerras não foram necessariamente batalhas contínuas – muitas incluíam períodos de tréguas temporárias, seguidas por novos confrontos. Vamos conhecer os conflitos que definiram eras inteiras.

1. Conflitos Sino-Nômades (c. 200 a.C. – 1700 d.C.) – Mais de 1.500 anos

📍 Local: Fronteiras chinesas com as estepes da Ásia Central

A mais longa série de guerras da história humana ocorreu entre a China imperial e os diversos povos nômades das estepes. Durante mais de 15 séculos, dinastias chinesas enfrentaram sucessivas ondas de povos guerreiros:

  • Xiongnu (ancestrais dos hunos)

  • Turcos

  • Mongóis

  • Manchus

Estes conflitos foram tão significativos que levaram à construção da Grande Muralha da China e influenciaram profundamente a cultura, política e estrutura militar chinesa. Ironicamente, apesar dos esforços defensivos, duas das principais dinastias chinesas (Yuan e Qing) foram estabelecidas por conquistadores "bárbaros" – mongóis e manchus, respectivamente.

O conflito só terminou quando a última grande potência nômade, os Manchus, conquistou a China em 1644, estabelecendo a Dinastia Qing e efetivamente tornando-se parte da civilização que antes combatiam.

Curiosidade:

A Grande Muralha que conhecemos hoje foi majoritariamente construída durante a Dinastia Ming (1368-1644) como resposta direta a esses conflitos persistentes. Representa o maior projeto de defesa já construído pela humanidade.

2. Reconquista (711–1492) – 781 anos

📍 Local: Península Ibérica

Quando pensamos na Espanha e Portugal medievais, devemos imaginar um campo de batalha que durou quase oito séculos. A Reconquista começou após a invasão muçulmana da Península Ibérica em 711 e terminou apenas com a queda do último reino mouro de Granada em 1492 – coincidentemente, no mesmo ano em que Colombo chegou às Américas.

Este prolongado conflito não foi uma guerra contínua, mas uma série de campanhas, batalhas e períodos de coexistência relativamente pacífica. No entanto, o objetivo final dos reinos cristãos ibéricos permaneceu constante: a expulsão do domínio islâmico.

A Reconquista moldou profundamente a identidade nacional espanhola e portuguesa, influenciando a arquitetura, a língua, a culinária e até mesmo as atitudes religiosas que persistiram por séculos.

Curiosidade:

Durante os períodos de paz relativa, especialmente em Al-Andalus (nome árabe para as regiões sob domínio muçulmano), floresceu uma notável convivência entre muçulmanos, cristãos e judeus, com intercâmbios culturais e científicos que ajudaram a preservar e transmitir o conhecimento clássico para a Europa.

3. Guerras Bizantino-Persas (54 a.C. – 628 d.C.) – 682 anos

📍 Local: Mesopotâmia, Cáucaso e Anatólia Oriental

Antes mesmo do surgimento do Islã, duas grandes potências disputavam o controle do Oriente Médio: o Império Romano/Bizantino e o Império Persa (Parta e depois Sassânida). Por quase sete séculos, esses impérios travaram uma série de guerras pelo controle de territórios estratégicos.

O conflito foi tão persistente que quando finalmente terminou – com a decisiva vitória bizantina sob o imperador Heráclio em 628 – ambos os impérios estavam exaustos e vulneráveis. Esta exaustão contribuiu significativamente para o rápido avanço dos exércitos árabes muçulmanos poucos anos depois, que conquistaram a Pérsia e retiraram grandes territórios de Bizâncio.

Curiosidade:

Os dois impérios às vezes chamavam seus governantes de "irmãos", reconhecendo que eram as duas grandes potências civilizadas do mundo conhecido, apesar de sua constante rivalidade.

4. Guerras Anglo-Francesas (1066–século XIX) – Mais de 700 anos

📍 Local: Europa, América do Norte, Índia e colônias globais

A rivalidade entre ingleses e franceses é possivelmente a mais longa e influente da história europeia. Começando após a Conquista Normanda da Inglaterra em 1066 (quando o duque da Normandia se tornou rei da Inglaterra enquanto ainda era vassalo do rei francês), esta rivalidade persistiu através:

  • Guerras medievais pelos territórios franceses

  • A famosa Guerra dos Cem Anos

  • Disputas coloniais na América e Índia

  • As Guerras Revolucionárias e Napoleônicas

Este antagonismo só terminou efetivamente com a Entente Cordiale de 1904, quando ambas as nações finalmente se uniram contra a crescente ameaça alemã.

Curiosidade:

Apesar de séculos de animosidade, o idioma inglês foi profundamente influenciado pelo francês. Após a Conquista Normanda, o francês tornou-se a língua da aristocracia inglesa por séculos, resultando em milhares de palavras francesas incorporadas ao inglês moderno.

5. Guerras Romano-Germânicas (113 a.C. – 476 d.C.) – 590 anos

📍 Local: Fronteiras do norte do Império Romano

O relacionamento entre Roma e as tribos germânicas começou com a derrota romana na Batalha de Noreia em 113 a.C. e terminou apenas com a deposição do último imperador romano do ocidente em 476 d.C. Durante quase seis séculos, os romanos alternaram entre guerras, alianças temporárias e tentativas de assimilação das tribos germânicas.

Roma inicialmente expandiu-se para territórios germânicos, mas após a desastrosa Batalha da Floresta de Teutoburgo em 9 d.C., onde três legiões foram aniquiladas, o império adotou principalmente uma postura defensiva. Com o tempo, os romanos passaram a recrutar cada vez mais guerreiros germânicos para suas legiões, o que ironicamente acelerou a "germanização" do império.

Curiosidade:

Muitos dos chamados "bárbaros" que eventualmente tomaram o controle de territórios romanos eram altamente romanizados e admiravam a cultura romana. Reis como Teodorico, o Grande (ostrogodo) governaram utilizando instituições romanas e tentaram preservar aspectos da civilização romana.

6. Guerras Otomanas-Habsburgo (1526–1791) – 265 anos

📍 Local: Sudeste Europeu, Hungria e Mediterrâneo

Por mais de dois séculos e meio, o Império Otomano e a dinastia Habsburgo (governantes da Áustria, Hungria e, por períodos, da Espanha) lutaram pelo controle da Europa Central e Oriental. O conflito começou com a Batalha de Mohács em 1526, onde os otomanos destruíram o Reino da Hungria, e terminou com o Tratado de Sistova em 1791.

Esta prolongada série de guerras definiu a fronteira entre o mundo islâmico e cristão na Europa e teve impacto profundo nas nações dos Bálcãs. Viena, capital dos Habsburgos, foi sitiada duas vezes (1529 e 1683), com o segundo cerco marcando o ponto mais ocidental da expansão otomana na Europa.

Curiosidade:

Após o fracassado cerco de Viena em 1683, quando os otomanos foram derrotados por uma coalizão liderada pelos poloneses, os vienenses comemoraram com uma nova bebida feita com os grãos de café deixados pelos otomanos em retirada – nasciam assim os cafés vienenses, parte fundamental da cultura da cidade até hoje.

7. Guerra dos Cem Anos (1337–1453) – 116 anos

📍 Local: França e Inglaterra

Apesar do nome sugerir um século exato, este conflito durou 116 anos e foi um dos mais definidores da Europa medieval tardia. A guerra começou quando o rei Eduardo III da Inglaterra reivindicou o trono francês, desafiando Filipe VI de Valois.

O conflito passou por várias fases, com períodos de combate intenso seguidos por tréguas. A Inglaterra conquistou impressionantes vitórias em batalhas como Crécy, Poitiers e Agincourt, mas eventualmente a França prevaleceu, expulsando os ingleses de todos os territórios continentais exceto Calais.

Curiosidade:

Foi durante este conflito que surgiu a lendária figura de Joana d'Arc, a jovem camponesa francesa que afirmava receber visões divinas e liderou as forças francesas em importantes vitórias antes de ser capturada e executada pelos ingleses. Séculos depois, seria canonizada como santa.

8. Conflito Israel-Palestina (1917–presente) – Mais de 100 anos

📍 Local: Territórios da antiga Palestina Mandatária

O único conflito contemporâneo nesta lista já ultrapassou um século de duração. Embora a criação oficial do Estado de Israel date de 1948, as tensões começaram efetivamente com a Declaração Balfour de 1917, quando o governo britânico apoiou "o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu".

Este complexo conflito envolve disputas territoriais, religiosas, étnicas e políticas, e já passou por diversas fases, incluindo várias guerras convencionais (1948, 1956, 1967, 1973) e períodos de violência de baixa intensidade. Apesar de numerosas tentativas de mediação internacional, continua sem resolução definitiva após mais de um século.

Curiosidade:

A região em disputa é considerada sagrada pelas três principais religiões abraâmicas: judaísmo, cristianismo e islamismo, o que adiciona complexas camadas religiosas ao conflito político e territorial.

9. Guerra dos Oitenta Anos (1568–1648) – 80 anos

📍 Local: Países Baixos e possessões espanholas

A luta pela independência holandesa do domínio espanhol foi um conflito definidor para a Europa moderna. Começou como uma revolta contra as políticas religiosas e fiscais do rei espanhol Filipe II e evoluiu para uma guerra de independência completa.

Durante oito décadas, os rebeldes holandeses enfrentaram o poderio do maior império da época. O conflito foi interrompido pela Trégua dos Doze Anos (1609-1621), mas depois recomeçou até ser finalmente resolvido com a Paz de Westfália, que reconheceu oficialmente a independência das Províncias Unidas (atual Holanda).

Curiosidade:

Durante esta longa guerra, os holandeses não apenas conquistaram sua independência, mas também estabeleceram um império comercial global, com a Companhia Holandesa das Índias Orientais se tornando a primeira corporação multinacional da história e a primeira empresa a emitir ações.

10. Guerra dos Trinta Anos (1618–1648) – 30 anos

📍 Local: Europa Central, principalmente territórios germânicos

Embora seja a guerra "mais curta" desta lista, com "apenas" trinta anos, este conflito foi um dos mais devastadores da história europeia, causando a morte de cerca de 8 milhões de pessoas – aproximadamente 30% da população da Europa Central na época.

O que começou como uma disputa religiosa entre protestantes e católicos nos territórios do Sacro Império Romano-Germânico rapidamente se transformou em uma guerra europeia generalizada, envolvendo a maioria das grandes potências. França, Suécia, Espanha, Áustria e dezenas de estados alemães lutaram em uma complexa rede de alianças que frequentemente transcendiam as divisões religiosas originais.

A Guerra dos Trinta Anos terminou com a Paz de Westfália em 1648, que também encerrou a Guerra dos Oitenta Anos. Este tratado estabeleceu princípios fundamentais do sistema internacional moderno, incluindo a soberania estatal.

Curiosidade:

Durante esta guerra, os exércitos frequentemente viviam do saque de territórios conquistados, o que intensificou enormemente o sofrimento civil. Algumas regiões da Alemanha perderam mais de 70% de sua população devido à combinação de violência direta, fome e doenças.

O Que Essas Guerras Nos Ensinam?

Estes conflitos de excepcional duração revelam padrões importantes sobre a natureza dos confrontos humanos:

  • Identidade e memória coletiva - Muitas destas guerras se tornaram parte central da identidade nacional dos povos envolvidos

  • Adaptação constante - Ao longo de décadas ou séculos, as táticas, tecnologias e até os objetivos dos combatentes evoluíram

  • Normalização do conflito - Gerações inteiras nasceram e morreram conhecendo apenas o estado de guerra

  • Estabilidade na instabilidade - Paradoxalmente, alguns destes conflitos criaram sistemas sociais e políticos relativamente estáveis adaptados à guerra permanente

Conflitos Modernos: Estamos Repetindo a História?

É tentador pensar que as guerras modernas são fundamentalmente diferentes destes conflitos históricos. No entanto, vários conflitos contemporâneos já duraram décadas sem resolução:

  • Guerra Civil Colombiana (1964-2016) - 52 anos

  • Insurgência Comunista nas Filipinas (1969-presente) - mais de 50 anos

  • Conflito da Caxemira (1947-presente) - mais de 70 anos

Isso nos leva a questionar: aprendemos realmente as lições destes longos conflitos históricos? Ou estamos condenados a repetir ciclos de violência prolongada, apenas com armas mais sofisticadas?

Conclusão: O Preço das Guerras Sem Fim

As guerras mais longas da história compartilham um trágico denominador comum: o sofrimento humano em escala quase inimaginável. Gerações inteiras viveram e morreram em conflito, com culturas e sociedades moldadas pela violência crônica.

Estudar estes conflitos não é apenas um exercício acadêmico – é uma forma de compreender as raízes profundas dos conflitos humanos e, talvez, encontrar caminhos para evitar que as disputas atuais se transformem nas próximas "guerras centenárias" registradas pelos historiadores do futuro.

Você se interessou por algum destes conflitos históricos em particular? Gostaria de saber mais sobre alguma destas guerras? Deixe seu comentário abaixo e confira outros artigos da nossa série "Guerras Mais Duradouras da História" aqui no blog Ponto de Vista!

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