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: Uma Guerra Centenária Por Terra e Identidade

Atualizado: 23 de abr.

Você já se perguntou por que, mesmo com tantas tentativas de paz, o conflito entre israelenses e palestinos parece não ter fim? Esta disputa, uma das mais duradouras e complexas da era moderna, já se estende por mais de um século, desafiando estadistas, mediadores internacionais e a própria humanidade com sua persistência.

No blog Ponto de Vista, continuamos nossa série "Guerras Mais Duradouras da História" com um olhar profundo sobre este conflito que molda não apenas o Oriente Médio, mas a geopolítica global.

Conflito Israel-Palestina: Uma Guerra Centenária Por Terra e Identidade

As Sementes do Conflito: Quando Tudo Começou

A história desta disputa territorial tem raízes muito mais profundas do que muitos imaginam. Para entender verdadeiramente o conflito, precisamos retornar ao final do século XIX, quando diversos fatores convergiram para criar uma tempestade perfeita na região:

O Surgimento do Movimento Sionista

Em 1897, o jornalista austro-húngaro Theodor Herzl organizou o Primeiro Congresso Sionista na Suíça, estabelecendo formalmente um movimento que defendia a criação de um lar nacional para o povo judeu em sua terra ancestral. Este movimento surgiu em resposta ao crescente antissemitismo na Europa, que culminaria décadas depois no Holocausto.

"O sionismo não era apenas um movimento político, mas uma resposta existencial à perseguição enfrentada pelos judeus europeus" – Historiador Avi Shlaim

A Palestina Otomana e o Mandato Britânico

Quando o movimento sionista começou a fomentar a imigração judaica para a Palestina, a região estava sob domínio do Império Otomano, com uma população predominantemente árabe. Após a Primeira Guerra Mundial e o colapso dos otomanos, os britânicos assumiram o controle da área.

Em 1917, a Declaração Balfour – uma carta do governo britânico expressando apoio ao estabelecimento de um "lar nacional para o povo judeu" na Palestina – adicionou combustível ao fogo das tensões regionais. Para os palestinos, essa declaração representava uma traição, pois a Grã-Bretanha havia prometido independência aos árabes em troca de apoio contra os otomanos.

A Partilha da Palestina e o Nascimento de Israel

O período entre guerras viu um aumento significativo na imigração judaica para a Palestina, especialmente devido à ascensão do nazismo na Europa. As tensões entre as comunidades judaica e árabe se intensificaram, resultando em revoltas árabes e ações militantes de ambos os lados.

O Plano de Partilha da ONU de 1947

Em 1947, exausta por conflitos crescentes e incapaz de encontrar uma solução, a Grã-Bretanha transferiu a questão para a recém-formada Organização das Nações Unidas. A ONU propôs a divisão da Palestina em dois estados:

  • Um estado judeu (56% do território)

  • Um estado árabe (43% do território)

  • Jerusalém como zona internacional

Este plano foi aceito pela liderança judaica, mas rejeitado pelos países árabes vizinhos e por líderes palestinos, que o consideravam injusto dada a composição demográfica da região (na época, os judeus constituíam cerca de 33% da população).

A Guerra de 1948 e a Nakba

Em 14 de maio de 1948, David Ben-Gurion proclamou a independência do Estado de Israel. No dia seguinte, exércitos de cinco países árabes invadiram o novo país, dando início à primeira guerra árabe-israelense.

Israel saiu vitorioso, expandindo seu território para além das fronteiras definidas pela ONU. Durante o conflito, entre 700.000 e 900.000 palestinos fugiram ou foram expulsos de suas casas – um evento conhecido como Nakba ("catástrofe" em árabe), que permanece como trauma coletivo para o povo palestino e uma questão central no conflito até hoje.

A Ocupação e Seus Desdobramentos

A ocupação de territórios palestinos por Israel começou após a Guerra dos Seis Dias em 1967, quando forças israelenses capturaram:

  • Cisjordânia (anteriormente controlada pela Jordânia)

  • Faixa de Gaza (anteriormente sob controle egípcio)

  • Jerusalém Oriental (que os palestinos reivindicam como sua futura capital)

  • Península do Sinai (devolvida ao Egito em 1982 após os acordos de Camp David)

  • Colinas de Golã (anexadas em 1981, pertenciam à Síria)

Colonização e Resistência

A partir de 1967, Israel iniciou a construção de assentamentos nestes territórios ocupados, hoje abrigando mais de 600.000 colonos israelenses. Para a comunidade internacional, estes assentamentos violam a Quarta Convenção de Genebra, que proíbe uma potência ocupante de transferir sua população civil para territórios ocupados.

Em resposta à ocupação, surgiram movimentos de resistência palestina, incluindo a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) de Yasser Arafat. A resistência assumiu formas tanto pacíficas quanto violentas, incluindo atos de terrorismo contra civis israelenses.

As Intifadas: Levantes Populares

A resistência palestina atingiu novos patamares com dois grandes levantes populares:

  1. Primeira Intifada (1987-1993): Um levante principalmente não-violento, caracterizado por greves, boicotes e protestos onde jovens palestinos atiravam pedras contra tanques israelenses. As imagens deste desequilíbrio de poder capturaram a atenção mundial.

  2. Segunda Intifada (2000-2005): Um conflito muito mais sangrento, com ataques suicidas contra civis israelenses e pesadas represálias militares israelenses. Este período viu a construção de uma barreira física (chamada "muro de separação" pelos palestinos e "barreira de segurança" pelos israelenses) que isolou ainda mais as comunidades.

Oslo e a Esperança Frustrada

Em 1993, os Acordos de Oslo trouxeram um raro momento de otimismo. Assinado na Casa Branca sob mediação do presidente americano Bill Clinton, o acordo estabelecia um roteiro para paz baseado no princípio "terra por paz" e no reconhecimento mútuo entre Israel e a OLP.

Oslo criou a Autoridade Nacional Palestina (ANP) como um governo interino palestino e dividiu a Cisjordânia em três áreas administrativas. Contudo, questões cruciais foram adiadas para negociações futuras:

  • O status final de Jerusalém

  • O direito de retorno dos refugiados palestinos

  • As fronteiras definitivas

  • Os assentamentos israelenses

  • Arranjos de segurança

Infelizmente, o assassinato do primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin por um extremista judeu em 1995, seguido por ondas de terrorismo e expansão de assentamentos, corroeu a confiança de ambos os lados.

A Divisão Palestina e o Bloqueio de Gaza

A situação se complicou ainda mais em 2006, quando o Hamas (considerado uma organização terrorista por Israel, EUA e União Europeia) venceu as eleições legislativas palestinas. Após um breve e violento conflito interno, o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza em 2007, enquanto o Fatah e a ANP mantiveram controle parcial sobre partes da Cisjordânia.

Esta divisão interna palestina criou dois territórios palestinos separados, não apenas geograficamente, mas também politicamente. Israel e Egito impuseram um bloqueio à Gaza, controlando rigorosamente o que entra e sai do território.

Gaza: Um Território Sitiado

Desde 2007, a Faixa de Gaza tem vivido sob um rigoroso bloqueio que limita severamente:

  • Importação de materiais de construção

  • Exportações

  • Movimento de pessoas

  • Acesso a pesca e agricultura

Com uma das maiores densidades populacionais do mundo (mais de 2 milhões de pessoas em 365 km²), Gaza enfrenta crises humanitárias cíclicas, agravadas por sucessivos conflitos militares entre Israel e Hamas em 2008-09, 2012, 2014, 2021, e mais recentemente em 2023-24.

O Impacto Humano: Além dos Números

Por trás das estatísticas, datas e eventos históricos estão vidas humanas profundamente afetadas:

Para os Palestinos

  • A vida sob ocupação significa checkpoints diários, restrições de movimento e crescimento de assentamentos que fragmentam comunidades

  • Em Gaza, o desemprego ultrapassa 50% e mais de 95% da água é imprópria para consumo

  • Gerações inteiras cresceram conhecendo apenas o conflito e a ocupação

  • A diáspora palestina (cerca de 5,6 milhões de refugiados registrados pela ONU) mantém viva a memória de vilas e cidades perdidas em 1948

Para os Israelenses

  • Viver sob a ameaça constante de foguetes, atentados e túneis de infiltração

  • O serviço militar obrigatório insere jovens em um conflito complexo

  • O medo constante molda a política e a sociedade

  • O isolamento internacional crescente e acusações de apartheid afetam a imagem do país

Vozes de Paz em Meio ao Conflito

Apesar do ciclo aparentemente interminável de violência, existem israelenses e palestinos trabalhando juntos pela paz:

  • Organizações como Parents Circle-Families Forum, que reúne famílias que perderam entes queridos no conflito

  • O movimento Combatants for Peace, formado por ex-combatentes de ambos os lados

  • ONGs de direitos humanos que documentam violações e defendem a dignidade de todos

Estas iniciativas raramente fazem manchetes, mas representam uma esperança tangível de que uma solução pacífica é possível quando as pessoas enxergam a humanidade compartilhada.

Desafios Contemporâneos e Perspectivas Futuras

O conflito enfrenta hoje desafios significativos:

Obstáculos à Solução de Dois Estados

  • A expansão contínua de assentamentos torna cada vez mais difícil a criação de um estado palestino viável

  • A fragmentação política palestina complica negociações

  • O crescimento de extremismos de ambos os lados diminui o espaço para compromisso

  • Jerusalém e o direito de retorno permanecem questões extraordinariamente difíceis

O Papel da Comunidade Internacional

A comunidade internacional tem contribuído de maneiras ambíguas para o conflito:

  • Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, têm servido como mediador, mas sua imparcialidade é frequentemente questionada

  • A União Europeia apoia financeiramente a Autoridade Palestina, mas tem pouca influência política

  • Os países árabes, historicamente defensores da causa palestina, têm normalizado relações com Israel sem resolver a questão palestina

Reflexão Final: Um Caminho para a Paz

O conflito Israel-Palestina nos ensina sobre os perigos de narrativas excludentes e a importância do reconhecimento mútuo. A história mostra que nenhum lado pode eliminar o outro ou impor uma solução unilateral.

Uma paz duradoura exigirá:

  • Reconhecimento mútuo de direitos nacionais e históricos

  • Compromisso com fronteiras seguras para todos

  • Justiça para refugiados e vítimas de violência

  • Cooperação econômica e acesso equitativo a recursos

  • Educação que promova empatia e compreensão

Para estudiosos da história, o conflito Israel-Palestina oferece inúmeras lições sobre identidade, memória histórica e os limites da força na resolução de disputas profundamente enraizadas.


Qual sua opinião sobre essa fascinante rivalidade histórica? Deixe um comentário abaixo e continue acompanhando nossa série "Guerras Mais Duradouras da História" aqui no Ponto de Vista!


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